segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Em cima do muro




















Era uma beleza ser criança. A gente acordava, tomava o café prontinho na mesa e ia pra escola. Aprendia algumas palavras e voltava pra casa ver desenhos e brincar até cansar. Pulava, brincava de bambolê e dormia.
No outro dia a mesma coisa. Encantador pensar como usávamos nossos dias sem pensar. E esse negócio de pensar foi ficando mais sério na medida que o tempo passava. Você começa a pensar nos seus defeitos e no que quer ser. E nesse meio aí você tem que ser forte porque dentro de você moram todos os sentimentos do mundo. Você pinta seu cabelo de colorido pra mostrar pra todo mundo como é diferente, mas na loja existem várias tintas da mesma cor e várias pessoas de outros anos e escolas compraram também. Que copiões!
Você escuta bandas, lê livros e se sente cheio, como se sentisse tudo, como se aquela amizade que você tem desde a quinta série fosse durar pra sempre. E não durou, assim como aquela sua mecha colorida. Você descobriu, no final, que nem era amizade de verdade e que a tinta colorida vai embora no ralo junto com as suas tão inocentes noções de mudança.
Sim, eu sei que até mês passado você tinha que pedir permissão pra ir ao banheiro, mas hoje você tem que assinar aqui, aqui e alí para te darmos esse papel pra você poder votar e a data de inscrição pro vestibular é só até amanhã.
Você passou, parabéns! Agora você precisa se preocupar em se tornar adulto. Que bom que você era bom aluno na escola e não tirava nenhuma nota baixa, agora deixa eu te explicar uma coisa: todo mundo aqui era assim, boa sorte.
Mas espera, senta aqui. É bem no meio dessa bagunça que você encontra pedacinhos da sua personalidade. Tudo começa a ser de verdade, as decepções, as desverdades; mas as felicidades também nunca foram mais verdadeiras. É, não dá saber o que fazer toda hora, mas ouvi dizer que com o tempo fica mais fácil.